E foi no segundo semestre de 2004 que a paradisíaca e charmosa Ilha da Córsega recebeu em seu território um homem com pés de anjo. Sob a celestial aura e fama conquistada após anos de bom futebol e diversos troféus erguidos pelo Corinthians, Marcelinho Carioca ganhou aos 33 anos de idade uma improvável segunda chance em solo europeu. O desafio da vez seria vestindo a camisa do AC Ajaccio, equipe habituada a disputar a 1ª divisão nacional, mas que possuía resultados pouco expressivos.
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(Foto: Reprodução)
Antes de colocar os pés de anjo na França, Marcelinho teve uma experiência nada feliz pelo Valencia, na temporada 1997/98. Em poucos meses, não foi tão aproveitado por Claudio Ranieri, técnico do time, e logo em seguida retornou ao Corinthians, onde continuou a escrever sua brilhante história no time paulista.
Só que depois do Timão veio o Santos, o japonês Gamba Osaka, o saudita Al Nasr, o Vasco da Gama… e o Ajaccio, numa lembrança raramente reconhecida na sólida carreira de Marcelinho.
Reza a lenda que o brasileiro foi contratado através de uma fita VHS. Os mais jovens não vão lembrar disso, mas houve uma época em que para assistir a filmes ou até mesmo vídeos gravados de maneira caseira, você precisava de um aparelho videocassete para assistir a essas cenas através de fitas. E foi assim que o técnico Dominique Bijotat e o presidente Michel Moretti chegaram a conclusão para contratá-lo.
Marcelinho não foi o único brasileiro a vestir a camisa do Ajaccio naquela temporada. No mesmo pacote onde veio o meia de 33 anos, chegaram também Edson de Faria, que veio do San Luis, do México; Lucas Pereira, da Portuguesa; e André Luiz, ex-Fluminense e com passagens pela dupla PSG e Marseille. Um legítimo pacotão verde e amarelo.
O anjo voou… embora
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Um episódio chave para a mudança de rumos do pé de anjo foi a troca de treinador logo no começo da temporada. Com Dominique Bijotat, Marcelinho era titular absoluto. Nas primeiras seis rodadas, esteve em campo durante todos os 90 minutos e marcou dois gols. Mas o time não andou. O Ajaccio acumulou derrotas para Sochaux (1 a 0), Metz (2 a 1), Bastia (1 a 0) e Toulouse (3 a 1) e empatou com Rennes e Saint-Étienne (ambos por 1 a 1). Este último resultado culminou com a demissão de Bijotat.
Coube a Olivier Pantaloni ocupar o posto de forma interina e, de pronto, mexeu no time. Entre as várias alterações que promoveu na formação inicial para encarar o Istres, na 7ª rodada, sacou Marcelinho do time. Coincidência ou não, o ACA venceu a primeira, fazendo 1 a 0, gol de Chapuis.
As semanas seguintes foram de tormenta para o brasileiro, que perdeu o status de intocável dentro do time. Chegou a ser titular no empate por 2 a 2 com o Caen, mas voltou para a reserva no 1 a 1 diante do Lens. Com Pantaloni, faria só mais duas partidas: no 2 a 2 frente o Strasbourg, onde foi titular, mas terminou substituído, e na derrota por 1 a 0 para o PSG, partida na qual saiu da reserva no intervalo.
O veterano Rolland Courbis assumiu o Ajaccio em seguida e tratou de tirar Marcelinho dos planos. O utilizou apenas por 15 minutos na estreia, no empate por 1 a 1 com o Nantes, e depois nunca mais. O inferno ao qual o pé de anjo foi parar contrastava com o sucesso que Lucas Pereira vinha apresentando. Onze anos mais novo e com sede de voar na Europa, o centroavante já acumulava seis gols na temporada – terminaria mais adiante com 11 no total.
A volta pra casa
Sem espaço com Courbis, não restou outra alternativa para Marcelinho a não ser voltar pra casa depois de apenas dez jogos e dois gols. Em janeiro de 2005, o pé de anjo alçava voos para o Brasil e reforçava o modesto Brasiliense, que havia acabado de conquistar o título da 2ª divisão, garantindo o inédito acesso à elite brasileira. O Ajaccio sobreviveu. Escapou do rebaixamento nas rodadas derradeiras, emendando duas vitórias nas partidas finais e decisivas para a permanência na elite.
Marcelinho, por fim, virou só um figurante nesta história toda e voltou pro Brasil deixando a pior impressão possível: a de ser um jogador aposentado em atividade, que só chegou ao clube por causa da fama que futebolistas brasileiros carregam consigo.