A meteórica passagem de Abel Braga pelo Marseille

Com a chegada expressiva de técnicos estrangeiros ao futebol brasileiro, ganhou corpo a seguinte pergunta: por que os profissionais daqui não estão na Europa da mesma forma que eles vêm para cá? O questionamento ecoa mais alto quando observamos, principalmente, argentinos espalhados pelas principais ligas do Velho Continente.

A França, porém, possui suas exceções e ver um brasileiro como técnico por lá não é algo tão anormal. Ricardo Gomes, por exemplo, passou por Bordeaux e Monaco e ganhou títulos, inclusive. O lendário Otto Glória também trabalhou no país e teve uma passagem curta, mas histórica pelo Olympique de Marseille.

Quem também trabalhou como treinador na França foi Abel Braga. Ex-zagueiro de sucesso no Paris Saint-Germain, ele foi parar no rival Marseille em 2000. Só que diferentemente do período na capital, Abelão não foi tão feliz assim no OM. Poucos jogos, muitos tropeços e uma demissão precoce. E é essa rápida passagem que relembramos a partir de agora.

Foto: Jean-Pierre Clatot/AFP via Getty Images – OneFootball

Caravana brasileira

O Marseille vivia temporadas turbulentas depois da queda para a 2ª divisão, ocasionada pelo escândalo envolvendo o presidente Bernard Tapie no ano em que ganhou a Liga dos Campeões. Chegou a ser vice-campeão em 1998/19, mas terminou na indigesta 15ª colocação na temporada seguinte, quando só evitou nova queda na última rodada.

Para fazer diferente em 2000/01, decidiu apostar na comissão técnica. O presidente Yves Marchand, que havia assumido o clube em setembro de 1999, veio ao Brasil e tirou Abel Braga do Vasco da Gama. Ex-zagueiro do rival Paris Saint-Germain, Abel ainda não tinha no começo dos anos 2000 a fama que adquiriu especialmente a partir dos trabalhos feitos por clubes como Internacional e Fluminense. Já possuía mais de dez anos de carreira, mas nenhum grande trabalho, apenas alguns poucos títulos estaduais estampavam seu currículo. Ao chegar no OM, tornou-se o segundo brasileiro treinador do clube. Antes dele, Otto Glória comandou a equipe num breve período em 1962.

Na chegada à França, Abel Braga trouxe alguns jogadores que conhecia do futebol brasileiro: Marcelinho Paraíba, do São Paulo, e Adriano Gabiru, contratado junto ao Atlético Paranaense. E o OM não poupou dinheiro para trazer a dupla. Marcelinho foi o mais caro, comprado por 7,6 milhões de euros, enquanto Gabiru foi adquirido por 4,3 milhões de euros.

Começo animador

O dia 28 de julho de 2000 ficou marcado como a estreia oficial de Abel Braga na casamata do Marseille. Mais de 54 mil pessoas foram ao Vélodrome assistir a vitória por 3 a 1 sobre o Troyes, pela 1ª rodada do Campeonato Francês. Gabiru fechou a conta com um belo gol, num chute de pé direito.

Nas três rodadas seguintes, tropeços preocupantes. Primeiro, uma derrota por 3 a 0 para o Saint-Étienne, no Geoffroy-Guichard, com Alex Dias marcando duas vezes. Depois, um empate sem gols com o Lens, na estreia de Marcelinho, que viria a marcar o primeiro gol pelo Marseille na partida seguinte, na derrota por 3 a 2 frente ao Nantes.

A recuperação veio nas duas partidas seguintes, com dois triunfos. Em casa, Abel e seus comandados venceram o Guingamp por 3 a 1, no Vélodrome, com mais um gol de Marcelinho, e em seguida veio o 2 a 0 no Monaco, no estádio Louis II. Com esses resultados, o OM de Abelão ganhou posições e chegou até a 5ª colocação, com 10 pontos – quatro atrás do líder Lens.

Instabilidade política e queda

A partir dali, o Marseille passou a viver um inferno dentro e fora de campo. O reflexo disso foi na presidência e também no trabalho de Abel. Depois da vitória sobre o Monaco, o OM jogou dez partidas, perdeu seis delas, venceu duas e empatou outras duas. 

No meio do caminho, em 3 de novembro de 2000, Yves Marchand abandonou o barco, reclamando dos resultados esportivos e de pessoas que estariam tentando lhe prejudicar. Eric Di Meco, ex-jogador do clube e diretor de esportes, também foi embora. Robert Louis-Dreyfus, presidente entre 1996 e 1999, voltou ao clube e a demissão de Abel virou apenas questão de tempo.

Foto: Boris Horvat/AFP via Getty Images – OneFootball

A despedida foi em grande estilo, com uma goleada em casa sobre o Metz, por 4 a 1. Gabiru, novamente, fez o dele. Abel estava cumprindo tabela, já que havia pedido demissão antes do jogo. Apesar da vitória, o Marseille era o 16º colocado em um campeonato de 18 times, somando míseros 18 pontos. Estava na zona de rebaixamento. Acabou sendo substituído pelo espanhol Javier Clemente, que também não teve vida longa.

A aventura de Abelão pelo Marseille acabou com cinco vitórias, três empates, oito derrotas, 17 gols marcados e 20 sofridos durante 16 jogos. Como lembrança, deixou um experimento pouco feliz num 3-5-2 que se tornou habitual ver no Brasil, mas que não deu muito certo na França. Uma passagem absolutamente discreta, meteórica e que, em 2016, foi colocada como uma das piores da história do clube pela France Football.

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