Muitos times trabalham por anos e anos para ter uma grande noite europeia. Um jogo eliminatório contra um adversário de alto nível, com casa cheia e muita coisa colocada sobre a mesa. O Metz foi um dos privilegiados da França a conseguir isso. Numa era sem Paris Saint-Germain milionário ou Lyon e Marseille com caminhadas mais consistentes no cenário continental, os Granadas conseguiram calar o Camp Nou na temporada 1984/85, ganhando um momento único para sua história.
Apesar de presença constante na primeira divisão, o Metz estava – e ainda está – longe de ser uma potência francesa. Apareceu na elite na temporada 1967/1968, chegou até um terceiro lugar no ano seguinte, mas sempre ocupou posições intermediárias.
Em 1983/84, saiu da inexpressividade e conquistou aquele que talvez seja o maior título de sua história: a Copa da França. Com as bolinhas dos sorteios a favor, os Granadas só encontraram um time da primeira divisão na final, e ainda assim venceram o Monaco por 2 a 0 na prorrogação.
O título nacional fez com que o Metz ultrapassasse as barreiras francesas e chegasse à Europa na temporada seguinte, tendo direito a disputar a antiga Recopa Europeia (ou Copa de Vencedores de Copas). Era apenas a terceira aparição internacional do time, que havia participado da Copa das Feiras no fim dos anos 1960.
Logo de cara, os franceses teriam pela frente o Barcelona. Os catalães ainda estavam distantes de serem a potência que são hoje, porém, já empilhavam nove troféus do Campeonato Espanhol, 20 Copas do Rei, além de duas taças da própria Recopa Europeia.
Ou seja, teríamos pela frente um Davi contra Golias.
Goleada na ida e remontada na volta
O jogo de ida disputado no estádio Saint-Symphorien, em Metz, no dia 19 de setembro de 1984, deu bem a letra do que era previsto nos dias que antecederam a partida. Os Granadas, nervosos, cometeram erros bobos e foram presas fáceis para a equipe comandada por Terry Venables.
O retrato desse nervosismo foi o primeiro dos quatro gols catalães na vitória por 4 a 2. Um lançamento errado do ataque do Barcelona e Luc Sonor, zagueiro do Metz, entregou o 1 a 0 com um gol contra bizarro. Ele recuou da entrada da área, mas deslocou completamente o goleiro Michel Ettore, que não alcançou a bola.
O Metz até empatou no primeiro tempo, com Toni Kurbos, mas sucumbiu a um letal Barcelona, que abriu 4 a 1 na etapa final com Bernd Schuster, Calderé e Carrasco. O estrago só não foi maior porque Jean-Philippe Rohr descontou nos minutos finais de jogo.
A volta, no dia 3 de outubro, foi icônica e entrou para a história dos dois times. Do Barcelona ficou uma grande mancha, com um resultado absolutamente inesperado. Para o Metz, um dia para ser lembrado para sempre, principalmente pela superação e a honra. Mas tudo começou com uma provocação que veio do lado catalão.
A história contada na França é de que o alemão Schuster teria “agradecido” ao goleiro Ettore pelas falhas no jogo de ida, dizendo que iria presenteá-lo com um presunto. A onda de provocações seguiu com o atacante Archibald, que chamou os franceses de “palhaços” pelas faltas cometidas, assim como o presidente do clube catalão, dizendo que convidaria os jogadores do Metz para acompanhar as próximas fases nos camarotes do Camp Nou.
Além disso, havia uma desconfiança local. A imprensa francesa deu pouca atenção ao jogo, nenhuma TV sequer foi à Catalunha. Por fim, poucos ingressos foram vendidos, o que dava a entender que existia um clima de “já ganhou” na torcida Blaugrana.
Tudo isso foi combustível para uma virada épica. Apesar de sair atrás, com gol de Carrasco, aos 33 da primeira etapa, os Granadas contaram com um brilhante Tony Kurbos para conseguir a grande façanha de eliminar o Barcelona em pleno Camp Nou. O atacante franco-alemão marcou três gols e foi o personagem da vitória por 4 a 1 – que ainda teve um gol contra de Vicente Sanchez.
A soberba barcelonista logo se aquietou, tendo como ápice Ettore correndo a Schuster e perguntando do presunto que lhe fora prometido.
O 6 a 5 que o Metz fez no agregado em cima do Barcelona é, até hoje, considerado o resultado mais surpreendente de um clube francês frente um grande europeu, da mesma maneira que está na prateleira alta de viradas mais inesperadas em torneios continentais.
Depois disso, a vida voltou ao normal. Os Granadas terminaram em posição intermediária na França e o Barcelona foi campeão espanhol. Só que ficou a lembrança e o marco, que agora fica de exemplo para tantos outros clubes continente a fora.