Abra o dicionário e procure pela expressão “vingança”. Entre os significados, você encontrará a seguinte definição: “Ato lesivo praticado em nome próprio ou alheio, contra uma pessoa, para vingar-se de dano ou ofensa por ela causada”. Se você quiser achar um sinônimo, estará o que Fernando Morientes fez com o Real Madrid na temporada 2003/04. Essa última parte, evidentemente, não é encontrada em nenhum dicionário, mas está no imaginário popular de grandes revanches do futebol mundial.
El Moro era um atacante respeitado, de seleção espanhola, e que formava uma eficiente dupla com Raúl. Entretanto, não era tão estelar quanto a diretoria pensava e foi descartado em prol de Ronaldo, astro da seleção brasileira campeã mundial em 2002. Foi no Principado de Monaco que Morientes reencontrou a alegria, os gols e pode se vingar de quem o desprezou na capital espanhola.
Desprezado em Madrid
A “Era Galáctica”, que tanto ajudou a expor a gigantesca marca do Real Madrid, foi a mesma que contribuiu para o fim da trajetória vitoriosa de Fernando Morientes na capital espanhola. Formado no Albacete, o atacante chegou aos Merengues em 1997 e empilhou troféus pelo clube, incluindo três Ligas dos Campeões. Em 2000, inclusive, fez um dos gols na decisão vencida sobre o Valencia, em Paris.
Neste período, formou uma poderosa dupla de ataque com Raúl. Essa parceria, porém, começou a ser desfeita em 2002, quando o Real buscou Ronaldo, então campeão do mundo com a seleção brasileira, junto a Internazionale. Era o começo do fim de uma trajetória vitoriosa de Morientes, que quase foi incluído na negociação.
Florentino Pérez, presidente madridista, queria incluir o atacante na negociação: além dos 20 milhões de euros, ele iria para Milão junto de Pedro Munitis. A Inter não quis e logo o Barcelona apareceu no negócio. Estava tudo certo entre os clubes e Morientes jogaria na Catalunha. Dessa vez, quem não quis foi o próprio Morientes, que permaneceu na capital espanhola, a contragosto de Florentino, que arrumou briga com lideranças do elenco, inclusive com o capitão Fernando Hierro.
Com Ronaldo no time, o atacante da seleção espanhola, presente na Copa do Mundo de 2002, perdeu espaço para o grande jogador daquele mundial. Na temporada 2002/03, Morientes marcou apenas cinco gols em 19 partidas do Campeonato Espanhol. Na edição anterior, por exemplo, haviam sido 18 bolas nas redes em 33 aparições.
Sem tempo de jogo e sabendo do próprio potencial que estava sendo desperdiçado, Morientes precisava respirar novos ares. E foi na brisa calma do Principado de Monaco que ele voltou a encontrar o que precisava para resgatar os holofotes perdidos em Madrid.
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O novo camisa 10
A corrida pela contratação de Morientes foi acirrada e o Monaco precisou desbancar times como Roma e Schalke 04, que almejavam ter o centroavante. Mas sua ida ao Principado, concretizada nas últimas horas de janela de transferências aberta, foi também uma forma do clube preencher uma lacuna importante do elenco, já que Shabani Nonda sofreu uma grave lesão no joelho na vitória por 4 a 2 sobre o Paris Saint-Germain, pela 4ª rodada do Campeonato Francês, e precisou ficar fora de combate por longos sete meses.
Quando chegou a França emprestado pelo Real Madrid para assumir a camisa 10 do Monaco, Morientes viu a equipe no topo da tabela da Ligue 1. Antes da estreia, na 6ª rodada diante do Lille, o time dirigido por Didier Deschamps dividia a liderança com o Olympique de Marseille, ambos com 12 pontos. Aliás, o começo do espanhol na liga local foi bastante irregular, exatamente o oposto do que foi visto na Liga dos Campeões da Europa, competição que conhecia bem desde os tempos de Espanha.
Logo na primeira partida pela fase de grupos, o Monaco viajou até a Holanda para encarar o PSV Eindhoven, de Guus Hiddink, que era um adversário temível. Afinal de contas, no ataque estava um jovem Arjen Robben, que logo em seguida migraria para o Chelsea. Só que Morientes tratou de esfriar os ânimos locais com um gol de cabeça, aos 30 minutos de jogo. Na etapa final, uma involuntária assistência para Edouard Cissé – o camisa 10 ajeitou a bola para a finalização e foi ‘interceptado’ pelo colega de time – deixou os monegascos com a vitória bem encaminhada. O gol de falta de Bouma não estragou a primeira das três vitórias que os franceses conquistariam na fase de grupos.
O gol marcado em solo holandês foi o impulso inicial para o espanhol, que deslancharia dali em diante. Na rodada seguinte, o Monaco bateu os gregos do AEK Atenas com tranquilidade e Morientes marcou dois dos quatro gols da vitória por 4 a 0, no Louis II. O camisa 10 monegasco balançou as redes mais uma vez, no empate por 1 a 1 com o PSV, e ajudou o time de Didier Deschamps a se classificar na liderança do Grupo C, com 11 pontos. De quebra, o time teve o melhor ataque desta etapa do torneio, ao lado da Juventus, com 15 gols. Evidente que é preciso dizer: número esse inflacionado por uma vitória por 8 a 3 sobre o Deportivo La Coruña, que também se classificou junto do time francês.
A exemplo da Champions League, as coisas iam bem para o Monaco também no Campeonato Francês e o ano foi concluído com a liderança da competição nacional. Eram 43 pontos em 19 rodadas, cinco de vantagem para o vice-líder Lyon. Morientes contribuiu com três gols, todos de cabeça e dois com assistências de Jérôme Rothen, que se transformava, naquele momento, na principal peça do time, ao lado do inspirado Ludovic Giuly, que marcou um dos mais belos gols de sua carreira na vitória por 2 a 0 sobre o Lens, na 14ª rodada.
Esse impacto inicial extremamente positivo tem, claro, responsabilidade do comprometimento de Morientes, mas também teve participação de outras figuras, como Antonio Pintus. O preparador físico estava no Monaco desde 2001 e tratou de colocar o espanhol na ponta dos cascos. “Meu peso era de 83 quilos, mas no Monaco, Pintus me deixou com 79 quilos em apenas três semanas”, contou o camisa 10 à Cadena Cope anos mais tarde.
O pesadelo do Lyon
O sorteio do mata-mata da Champions League colocou o surpreendente Lokomotiv Moscou no caminho do Monaco. O time russo avançou na 2ª colocação do Grupo B, atrás apenas do Arsenal e a frente da Internazionale e do Dynamo de Kiev. Só que até o confronto europeu, havia a Copa da França e o Campeonato Francês no horizonte monegasco. E logo depois de despachar o Metz, na Copa, Morientes e companhia limitada teriam pela frente o jogo da vida contra o Lyon, pelo Campeonato Francês.
Era apenas a 20ª rodada, mas aquela partida já soava como uma final antecipada. Eram os dois melhores times da competição e que ocupavam, com justiça, as duas primeiras colocações. O jogo em si provou isso. Chances de lado a lado e os dois goleiros – Flávio Roma no Monaco e Grégory Coupet no Lyon – precisaram trabalhar bastante.
Mas Morientes, calejado em jogos grandes, foi decisivo e desequilibrou em favor do Monaco participando dos três gols. No primeiro, ainda na etapa inicial, foi ele quem deu a casquinha no alto, após bola esticada de Roma, antes do recuo equivocado da defesa, que terminou com Giuly abrindo o placar. Na etapa final, El Moro ampliou a contagem de cabeça e ainda sofreu o pênalti, convertido por Giuly, que deu números finais ao confronto.
Com a vitória por 3 a 0, o Monaco abriu oito pontos na liderança e parecia ter dado um golpe irreversível no Lyon – só parecia, adiante explico.
O Lyon, aliás, voltou a ser vítima de Morientes de maneira impiedosa nas oitavas de final da Copa da França, semanas antes do início do mata-mata da Champions League – que o OL também jogaria e teria pela frente a Real Sociedad. Desta vez, a história começou diferente para os Gones, que abriram contagem com o brasileiro Élber, ainda na etapa inicial.
Só que o show de Morientes começou antes do intervalo. Nos acréscimos do árbitro, ele recebeu na entrada da área, girou para cima de Edmilson e acertou um belo chute de pé direito, indefensável para Coupet. Na etapa final, o espanhol aproveitou dois cruzamentos da esquerda, um de Rothen e o outro de Givet, para marcar dois gols de cabeça e celebrar o inédito triplé em terras francesas. Dado Prso, o substituto imediato de Morientes, ainda teve tempo para marcar o quarto gol e carimbar uma classificação em grande estilo, com uma vitória por 4 a 1.
A tensa eliminatória
Passada a euforia com a grande vitória sobre o Lyon, era chegada a hora de focar atenções no mata-mata da Champions League. Ida na gelada Rússia e volta em casa em dois jogos pra lá de tensos. O Lokomotiv encerrou a fase de grupos invicto jogando em casa. Empatou com o Arsenal, fez 3 a 0 na Inter e bateu o Dynamo de Kiev por 3 a 2. Sabendo do fator local, os russos buscaram o ataque desde o princípio, criaram boas chances e abriram o placar aos 32 minutos, com Marat Izmaylov, que deixou Zikos vendido no lance e ainda colocou Evra no chão com um belo drible antes de estufar as redes monegascas.
A situação começou a se complicar na etapa final, quando o Lokomotiv apertou o cerco e conseguiu o segundo gol. Um chute torto da entrada terminou desviado no meio do caminho e achou Maminov livre para vencer Roma e ampliar a contagem, aos 14 minutos. O Monaco reclamou de impedimento de Evsev na jogada, mas em era “pré-VAR”, a reclamação foi em vão.
Só que aos 24, a jogada que tanto ajudou o time de Deschamps ao longo da temporada voltou a funcionar. Evra foi derrubado pela lateral esquerda e a falta cobrada por Rothen terminou em bola nas redes. O camisa 25 alçou na área, a zaga não afastou e Morientes marcou o gol do alívio monegasco. Lembrando: na época, havia o critério de desempate do gol marcado fora de casa. Logo, o tento de El Moro deixou os franceses a uma vitória simples pela classificação na volta.
No Principado, um jogo caótico. Sem Giuly, com uma fratura em um dos dedos do pé, Deschamps lançou a campo um trio de ataque formado por Prso, Adebayor e Morientes. O jogo teve de tudo: pênalti perdido, expulsão cedo no time russo e uma vitória magra por 1 a 0, que valeu a classificação ao Monaco. Prso, que perdeu o citado pênalti ainda no primeiro tempo, marcou o gol na etapa final, classificando a equipe para as quartas de final, onde teriam pela frente, nada mais, nada menos, do que o Real Madrid.
Ah, vale citar: o período em que começa o mata-mata da Champions League coincide com o declínio do Monaco no Francês. Após o jogo de ida contra o Lokomotiv, em 24 de fevereiro, e a ida com o Real Madrid, que seria em 24 de março, o time do Principado fez quatro jogos pela competição nacional, tendo empatado três e vencido apenas um. O Lyon fez o inverso: venceu três e empatou um, conseguiu empatar em pontos e assumir a liderança nos critérios de desempate ao término da 29ª rodada, que antecedia a fase de quartas de final da Champions League.
Isso tudo precisou ficar para trás nos dias dos reencontros de Morientes com o Real Madrid.
A hora da vingança
De um lado, Ronaldo, Figo, Zidane e Beckham. Do outro, os valentes jogadores de Didier Deschamps, capitaneados por um Morientes sedento por vingança. Em meio a tantas estrelas, ele, desprezado pelo clube espanhol exatamente para abrigar esses nomes estelares, virava também um dos protagonistas do confronto. Não à toa, em entrevista ao site da UEFA nas vésperas da eliminatória, El Moro reconheceu que o elenco não tinha tanta vivência em Champions League e que ele poderia ajudar com a experiência no torneio.
Nos primeiros 45 minutos disputados no Santiago Bernabéu, os madridistas exerceram uma pressão absurda. Teve bola na trave de Zidane e gol feito perdido por Ronaldo na pequena área. O Monaco, apesar de se defender mais, teve duas boas chances criadas por Giuly. Em uma delas, Salgado tirou a bola quase dentro do gol.
Mas se sobrava talento no meio e no ataque espanhol, faltava na defesa. E foi essa a fragilidade que o Monaco soube aproveitar. Depois das chances claras não concretizadas pelo camisa 8, uma bola cruzada na área teve o oportunismo do zagueiro Squillaci para colocar o time visitante em vantagem nos minutos finais da primeira etapa.
O segundo tempo veio, o clima virou e o Monaco passou a viver um pesadelo. Encurralado por um Madrid disposto a reverter o placar, o time do Principado viu a vantagem virar pó com quatro gols em 36 minutos. Helguera, Zidane, Figo e Ronaldo marcaram, abriram 4 a 1 para os Merengues e pareceram impor um marcador de difícil reversão.
Entretanto, o personagem da eliminatória apareceu aos 38 minutos para marcar o gol chave do confronto. Morientes aproveitou cruzamento da direita, feito por Plasil, se antecipou à marcação e cabeceou no canto esquerdo de Casillas para anotar o segundo gol do Monaco, que acabou sendo aclamado pela torcida local. A vantagem ainda era grande, é verdade, mas às favas não estavam contadas com o 4 a 2.
A remontada com Giuly e Moro
Morientes continuava como o centro das atenções na partida de volta e a sua presença, somada a necessidade de gols do Monaco, aumentavam essa sensação. Não à toa, uma das principais chances da primeira etapa foi sua. Uma falta ensaiada na entrada da área terminou numa pancada do camisa 10, que obrigou Casillas a rebater para escanteio.
Entretanto, foi o Real Madrid que saiu em vantagem. Aos 36 minutos, Ronaldo serviu Raúl, que aproveitou corta-luz de Guti para bater no canto direito de Roma e abrir o placar. Com menos de uma hora por jogar, o Monaco precisaria, dali em diante, de três gols para seguir adiante nos critérios de gols fora de casa.
Para escalar essa montanha, nada melhor do que explorar o potencial de uma dupla que representava a referência técnica de um valente Monaco. Foi o brilhantismo de Giuly e Morientes que fizeram com que os monegascos arrancassem uma virada épica, até hoje inesquecível. Essa remontada começou no lance final da primeira etapa. Bola alçada na grande, Morientes escorou e Giuly emendou o chute de pé direito. A bola desviou no meio do caminho e saiu do alcance de Casillas. Faltavam mais dois.
Essa vantagem ficou menor logo aos 3 minutos da etapa final. Patrice Evra centrou a bola na área e Morientes subiu mais que toda a defesa para cabecear e encobrir o goleiro adversário. Foi o sétimo gol de El Moro, que desta vez, não pensou duas vezes em comemorar o tento e empurrar o seu time contra aqueles que meses antes o desprezaram “por não ser tão Galáctico assim”.
O gol do alívio veio aos 21. Hugo Ibarra tirou Roberto Carlos do visor e chutou rasteiro para a área. A bola passou por um par de pernas, não pelas de Giuly, que desviou com capricho para o fundo das redes madridistas. Era o 3 a 1, que se sustentou até o fim do jogo graças a um impedimento bem marcado de Raúl, que ainda marcaria mais uma vez, mas se viu frustrado pela marcação da irregularidade. O próprio Monaco teve chances de mexer no placar, mas parou na trave de Casillas em finalizações de Nonda e Adebayor.
Pouco fez falta. O fato é que a vingança estava feita. Morientes, desprezado pelo Real Madrid, era goleador da Champions League e semifinalista do torneio. Os Merengues ficaram sem nada.
“Lembro-me disso quase todos os anos. Foi uma partida muito especial para o Monaco, para os torcedores, para o clube, mas para mim em particular. Jogamos contra o grande Real. Ninguém, nem eu, pensou que o Monaco pudesse eliminar o Real Madrid”, admitiu Morientes. “Eles eram um dos melhores times da Europa, que muitas pessoas consideravam os futuros campeões europeus. Este jogo foi especial para isso. Eliminamos os Galácticos”, complementou.
Decisivo contra o Chelsea
Outro grande momento de Fernando Morientes em solo francês foi na semifinal contra o Chelsea. O que era um fato inédito para o Monaco – estar entre os quatro da Europa – era algo corriqueiro para ele, tão habituado a erguer taças pelo Real Madrid. E esse tipo de referência técnica e hierárquica, que era El Moro, costuma ser útil em eliminatórias como essa contra os Blues.
O jogo de ida, no Principado, foi pegado e faltoso (43 faltas ao todo). A tensão era tão latente que uma simples provocação de Claude Makélélé fez o grego Akis Zikos se descontrolar e dar um tapa no volante do time londrino. Foi expulso quando o placar apontava 1 a 1 – Prso fez o primeiro e Crespo empatou.
Só que Morientes, que fazia partida discreta, precisou de uma bola em condições de finalizar para mostrar seu valor. O espanhol, que fazia uma espécie de função híbrida, ao ser um camisa 10 próximo de Giuly e Prso, mas sempre aparecendo na área, recebeu passe de cabeça do capitão da equipe, ingressou na grande área e encheu o pé direito, estufando as redes de Ambrosio. Minutos depois, Shabani Nonda saiu do banco para marcar o terceiro e assegurar um 3 a 1 que encaminhava a vaga para a decisão.
A volta, em Londres, manteve o nível de tensão, mas sem a mesma truculência que marcou a partida de ida. Já Morientes, foi de vilão a herói em poucos instantes. Quando o placar já apontava 1 a 0 para o Chelsea, com gol de Grønkjær, o espanhol acertou a trave esquerda de Cudicini e perdeu a primeira chance clara da partida. Mas o lance mais cristalino de gol veio aos 40. Fernando recebeu entre os zagueiros, de frente para o goleiro e com espaço para finalizar. Optou por um chute caprichoso de pé direito e mandou para fora. Instantes depois, Lampard fez o segundo gol inglês, que já valeria a classificação aos Blues.
Mas sabem aquele velho ditado? A sorte acompanha os competentes. Morientes sempre mostrou muita eficiência no jogo aéreo e isso foi muito bem explorado por Deschamps. E foi numa jogada desse estilo que o Monaco foi para o intervalo com o placar que lhe classificava. Após bola alçada na área, Moro cabeceou, a pelota bateu na trave e voltou no corpo de Ibarra, que não precisou fazer qualquer tipo de movimento para ver a redonda balançar as redes.
Aos 15 minutos do segundo tempo, veio o grande ato de Morientes. Após tabela com Lucas Bernardi, o espanhol infiltrou na defesa rival e, novamente, ficou frente a frente com o arqueiro rival. Desta vez, não falhou. Bateu firme, por baixo de Cudicini, e viu a bola morrer no fundo do gol.
Acabou ali. Morientes sabia disso e todo o time também. O Monaco poderia comprar as passagens para Gelsenkirchen, onde jogaria a decisão da UEFA Champions League contra o Porto.
“Sabíamos que poderíamos vencer qualquer um, mas não estabelecemos uma meta. Nossa ambição era levar as coisas passo a passo e ver o que poderíamos fazer após a fase de grupos. Não esperávamos chegar à final ou à semifinal. Mas tivemos algumas partidas incríveis”, contou Morientes, ao site oficial do Monaco.
Da ascensão a queda
Entre a classificação para a decisão e o jogo em si, o Monaco entrou em decadência. Faltando quatro rodadas para o fim da Ligue 1, Morientes e companhia já estavam atrás do Lyon e aparentavam estar com a cabeça em Gelsenkirchen. Com isso, acumulou tropeços, foi ultrapassado pelo Paris Saint-Germain na penúltima rodada e terminou o França no pódio, mas sem a taça, que ficou com o OL. Moro marcou apenas mais uma vez, na derrota por 4 a 1 frente o Rennes.
A frustração maior veio no dia 26 de maio, data da decisão na Veltins Arena. Um dia histórico, mas que não foi mais marcante por causa do desfecho da partida. Foram 90 minutos de tormento, onde nada deu certo para o Monaco.
A começar por Ludovic Giuly, referência técnica do time ao lado do próprio Morientes. O camisa 8 se contundiu antes dos 30 minutos de jogo e precisou ser substituído. El Moro também teve noite de pouca inspiração e ainda foi prejudicado por decisões polêmicas da arbitragem. Em duas oportunidades, aos 31 minutos do primeiro tempo e aos 17 do segundo, ele foi lançado em profundidade, ficando livre à frente do goleiro Vitor Baía, e nas duas foi marcado impedimento. Se no lance da etapa final havia dúvida da posição e, ainda assim, ele teve finalização bloqueada pelo arqueiro, a jogada da primeira parte do jogo não deixou questões em aberto: a posição era legal e Morientes sequer conseguiu finalizar ao ver a marcação de impedimento. Ali, a partida ainda estava sem gols.
Com tanta coisa dando errado, restou apenas contemplar uma vitória contundente do Porto de José Mourinho. Carlos Alberto, Deco e Alenichev marcaram os gols do título português, naquela que foi a última partida de Morientes com a camisa do Monaco.
Com 22 gols em 42 jogos, o espanhol, goleador máximo da Liga dos Campeões em 2003/04, com nove bolas nas redes, regressou ao Real Madrid após o encerramento da temporada. Real, aliás, ficou chupando dedo. Foi o quarto colocado de La Liga, além da queda para o próprio Monaco, nas quartas de final.
Mesmo sem a ‘orelhuda’, a vingança estava completa para Morientes, e com o gosto adicional de entrar para a eternidade monegasca.