Apesar de uma única medalha de ouro e da ausência nos Jogos Olímpicos desde 1996, a França sempre foi uma presença constante no torneio de futebol. Por causa disso, se tornou normal jogadores que anos depois se tornariam referências do esporte local participassem da competição. Nos Jogos de 1996, por exemplo, a seleção de Raymond Domenech tinha Claude Makélélé, Robert Pirès e Sylvain Wiltord. Esse time, porém, não passou das quartas de final. Foi o mesmo destino de uma equipe que representou a França duas décadas antes, nos Jogos Olímpicos de Montreal, no Canadá.
Embalada por um promissor Michel Platini, a seleção que ainda tinha Patrick Battiston teve uma boa fase de grupos, mas esbarrou na forte Alemanha Oriental, formada por muitos jogadores da seleção principal, e ficou longe da medalha.
Sob a sombra de Rouyer
Ausente da edição de 1972, a França precisou deixar Romênia e Holanda para trás antes de chegar aos Jogos de Montreal. Na época, o Pré-Olímpico Europeu contava com 20 seleções divididas em quatro chaves. Nelas, havia uma separação: uma equipe entrava na 2ª fase, enquanto outras quatro disputavam eliminatórias em ida e volta para definir as outras duas qualificadas. Neste caso, os franceses entraram direto na 2ª fase e concorreu a uma vaga nas Olimpíadas com os holandeses, que eliminaram Luxemburgo, e com os romenos, que deixaram a Dinamarca para trás.
A seleção francesa, que era dirigida por Gabriel Robert, começou a caminhada rumo ao Canadá com uma grande vitória sobre a Holanda, em Veendam. Os holandeses abriram o placar com Karstens ainda no 1º tempo, mas Rouyer e Rubio viraram o jogo na etapa final. Meertens chegou a empatar, só que Schaer, aos 40 minutos, fez o gol da vitória francesa.
Foi o início de um caminho que terminou pavimentado com vitórias sólidas sobre Romênia, por 4 a 0, e novamente Holanda, 4 a 2. Com grande saldo de gols, a derrota por 1 a 0 diante dos romenos na rodada final causou mínimo impacto na campanha francesa, que arrancou a classificação com 11 gols marcados e apenas 5 sofridos.
Platini, ainda surgindo no Nancy, disputou três dos quatro jogos e marcou uma vez, no 4 a 2 diante da Holanda. Quem se destacou mesmo foi Olivier Rouyer, companheiro do próprio Platini no ASNL – Paco Rubio era outra atração da seleção que vinha do Nancy. Dos pés dele saíram seis gols franceses, incluindo três no 4 a 0 sobre a Romênia.
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Dava pra sonhar
Era chegada a hora de embarcar rumo ao Canadá. Mas, ainda assim, o torneio olímpico acabou ficando meio capenga, afinal de contas, as três nações africanas – Nigéria, Zâmbia e Gana – se retiraram da competição por razões políticas. Por isso, três dos quatro grupos tiveram apenas três seleções, e não quatro, como estava previsto anteriormente.
Sem ter nada a ver com isso, a França viajou para o Canadá com uma seleção que lhe dava o direito de sonhar com uma medalha. Os Bleus pousaram em Montréal com Patrick Battiston, do Metz, Jean Fernandez, do Marseille, além, é claro, de Michel Platini.
A fase de grupos, de fato, confirmou a força dessa equipe. Na estreia, em Ottawa, os franceses golearam o México, de Hugo Sánchez, vencendo por 4 a 1. Schaer e Baronchelli abriram 2 a 0 antes do intervalo, enquanto Rubio e Amisse fecharam a conta na etapa final. O próprio Sánchez fez o gol de honra dos mexicanos.
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Platini desencantou na 2ª rodada, diante de Guatemala, e encerrou a fase de grupos com três gols. Contra os guatemaltecas, fez o primeiro e quarto gol da vitória por 4 a 1. Já na rodada final, marcou o solitário gol francês no 1 a 1 diante de Israel. Bastou para passar de fase na 1ª colocação junto dos israelenses.
O adeus precoce
Entretanto, um detalhe de chaveamento complicou a vida francesa. O grupo dos Bleus cruzava com a chave que tinha Brasil e Alemanha Oriental – além da Espanha, que caiu sem pontuar. Por um gol a mais, os brasileiros passaram na liderança e os alemães orientais caíram no caminho francês.
A seleção dirigida por Georg Buschner era muito forte. Alguns jogadores já haviam sido medalhistas de bronze nos jogos de 1972 e outros participaram da Copa do Mundo de 1974 – o treinador era o mesmo, inclusive. O grande nome era Jürgen Croy, goleiro, que foi um dos principais atletas do país durante o período dividido pelo Muro de Berlim. Nem mesmo o talento francês seria capaz de fazer frente a essa equipe.
Não deu outra e a Alemanha Oriental venceu com alguma facilidade. O estádio Frank Clair, em Ottawa, viu os alemães saírem na frente aos 27 minutos, com Löwe. Na etapa final, o trem francês começou a sair do trilho antes dos 15 minutos, quando Rubio e Fernandez foram expulsos. Com dois a mais, bastou concluir a goleada com dois gols de Dörner, aos 15 e aos 18, e mais um de Riediger, aos 33. Um 4 a 0 frustrante e que pôs fim a um sonho dourado.
A Alemanha Oriental despachou ainda União Soviética e Polônia antes de conquistar o ouro, o maior feito do futebol do país antes da unificação. Já a França voltou pra casa mais cedo. Platini, discreto em Montréal, foi eleito o jogador francês da temporada dois anos depois e começou a empilhar uma série de conquistas individuais e coletivas. A medalha olímpica, entretanto, nunca esteve no peito do histórico meio-campista dos Bleus, que teve os sonhos arruinados pelos alemães orientais em solo canadense.