Em 1993, o Marseille saboreou o título francês em cima do maior rival

Certa vez, um “filósofo” muito conhecido de nossas bandas disse: “Ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é melhor ainda”.

A frase do locutor Galvão Bueno dedicada as vitórias da Seleção Brasileira sobre a grande rival Argentina podem muito bem ser enquadradas no clássico entre Olympique de Marseille x Paris Saint-Germain. Se já não bastasse ser bom demais derrotar seu grande rival, no grande clássico francês há histórico de vitórias que garantiram títulos.

As duas torcidas se odeiam, sejam por culpa geográfica ou futebolística. Ambos não se dão e não há motivo que os faça se dar bem. O histórico de confusões entre as duas torcidas dá a sensação cristalina de afirmar que o que há entre marseillais e parisienses é um “ódio mortal”. Mas imagina qual deve ser a reação dos torcedores após uma vitória sobre o grande rival ocasionando o título de seu time? Entusiasmo puro! Mas do perdedor? Ira e angústia.

Como todo bom clássico, no duelo OM-PSG não pode ser diferente. Sejam em campeonatos de pontos corridos ou de mata-mata, as duas equipes sempre se cruzam em momentos decisivos e volta e meia acabam se encontrando em um momento crítico, onde o vencedor pode sair com o troféu. Foi o que aconteceu em 1993.

Final antecipada

Três dias após o histórico gol de Boli, outro histórico jogo

Em 26 de maio de 1993, o Olympique de Marseille derrotou o Milan por 1 a 0 e se consagrou campeão da Liga dos Campeões. Nunca um time francês havia conseguido tal feito, e até hoje, ninguém igualou o OM. O time de Barthez, Angloma, Desailly, Boksic, Voller, Abedi Pelé, Deschamps e Basile Boli ficou marcado como um dos maiores times que os franceses já viram, tendo ganho tudo em âmbito nacional e superando essas fronteiras com o inédito título europeu.

Porém, o time do Marseille não poderia relaxar. O título francês ainda estava em jogo. Após o término da polêmica 36ª rodada – foi nesta rodada que Bernard Tapie subornou os jogadores do Valenciennes para não “forçarem” muito diante do Marseille -, o Marseille ocupava a liderança com 51 pontos e dois pontos abaixo vinha o Paris Saint-Germain.

O que aconteceria na 37ª rodada da temporada 1992/93 seria uma verdadeira final antecipada. O Olympique de Marseille, empolgado com o título europeu conquistado três dias antes, enfrentara o Paris Saint-Germain, que jogava suas últimas fichas na Ligue 1, dependendo de uma vitória para tomar a ponta e jogar com vantagem na última rodada.

Poucas vezes se viu uma festa tão grande no Stade Vélodrome. O estádio recebeu mais de 37 mil pessoas e esses fanáticos torcedores recepcionaram de forma acalorada os campeões europeus, com mosaicos, cantos e as tradicionais bandeiras.

A festa estava bonita, mas o bicão foi quem começou se divertindo. Com menos de dez minutos de jogo, Vincent Guérin aproveitou rebote da trave e fez 1 a 0 para o PSG. Um grande banho de água fria nos torcedores do Marseille, não só pela parcial derrota no clássico, como também pelo fato do Paris assumir a liderança do campeonato com aquele resultado.

Mas logo a superioridade técnica e tática do Olympique de Marseille se sobressaiu ao time rival. Ainda na etapa inicial, Rudi Völler e o predestinado Basile Boli marcaram pro OM e deram a liderança do placar e do campeonato pros donos da casa.

Na etapa complementar, o Paris Saint-Germain partiu para cima. Mas era claro que faria isso. A derrota dava o título para o Marseille. O empate não era o melhor dos resultados, mas pelo menos evitava a conquista do campeonato de forma antecipada. Porém, de nada adiantava partir para cima do time que acabara de conquistar a Europa. Era inútil. O Marseille era superior e concretizou essa superioridade com o gol de Boksic.

Após o último apito do árbitro Didier Pauchard, nada mais poderia ser adiado, o Olympique de Marseille era campeão francês em cima do grande rival.

Os quatro pontos abertos para cima do Paris Saint-Germain eram suficientes para garantir o título com uma rodada a disputar. Não podia dar em outra senão festa geral, dois títulos seguidos e o grande rival com o vice-campeonato – e mais tarde tendo de se contentar com a Copa da França.

A festa virou enterro

Dias depois veio à tona o escândalo “VA-OM” – explicado acima – e no dia 2 de setembro, o Comitê Executivo da UEFA decidiu retirar o título francês do Olympique de Marseille.

Claro que a decisão doeu para os marseillais. Ver o time ter o título nacional retirado, além de ver o Marseille ser rebaixado para a Ligue 2 – fora o fato de ter ficado 15 anos sem ver seu time campeão -, mas ter seu time campeão europeu e “campeão nacional” em cima de seu grande rival foi um alento para a grandiosa torcida do Marseille.

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