Quando Lyon e Olympique de Marseille se enfrentam, todos já esperam alguma coisa. O já tradicional Choque dos Olympiques é um duelo histórico e que se tornou uma rivalidade bastante ferrenha no começo do atual século. Apesar das animosidades vividas pelos clubes, tanto pelas torcidas, quanto pelas diretorias, foi nos anos 70 que os dois Olympiques se cruzaram em uma final de Copa da França.
A temporada era 1975/1976. O Marseille já podia ser considerado uma das potências do país, tendo conquistado o Campeonato Francês quatro vezes e a Copa em oito oportunidades. O Lyon, em contrapartida, era apenas um clube emergente. Não tinha títulos franceses, mas já havia conquistado a principal copa nacional do país três vezes.
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A decisão daquele 12 de junho de 1976 seria a salvação da frustrante temporada dos dois times. Faltavam ainda duas rodadas para o fim do Campeonato Francês e ambos vinham mal das pernas. O Marseille era o 7º, com 39 pontos, e não tinha mais nenhuma aspiração no torneio. O Lyon vinha em situação pior. Era o 17º, uma posição acima da zona de rebaixamento, e tinha os mesmos 31 pontos do Monaco, que estava na área de queda.
Apesar disso, no encontro antes entre os dois Olympiques, menos de dois meses antes da decisão, deu OL. No dia 30 de abril, no Gerland, o Lyon venceu por 2 a 1, com dois gols de Bernard Lacombe, em partida válida pela 32ª rodada do Francês. Coincidência ou não, dali pra frente até a grande decisão, nenhuma das duas equipes voltou a vencer no torneio. Tanto o Marseille, quanto o Lyon acumulavam cinco partidas sem vitórias.
Campanhas sólidas
Se no Campeonato o desempenho foi claudicante e bastante irregular, Marseille e Lyon não tiveram do que reclamar de suas participações na Copa da França. Em um tempo onde o regulamento era um monstrengo, com fases em jogos únicos e outras com ida e volta, os dois chegaram à decisão do Parque dos Príncipes com sólidas campanhas.
O OM deixou para trás Olympique Avignonnais, Auxerre, Stade de Reims, Angers e Nancy, enquanto o OL desbancou SC Saint-Symphorien, Brest, Lille, Paris Saint-Germain e Metz, em uma campanha sem derrotas – em uma das fases ida e volta, o Marseille perdeu uma partida para o Angers.
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Na grande decisão do dia 12 de junho, os dois Olympiques foram a campo com praticamente força máxima. Do lado do Lyon, Aimé Jacquet depositava as fichas em Serge Chiesa, Bernard Lacombe, além do capitão Raymond Domenech. Já o Marseille tinha no vigor físico de Marius Trésor e no faro de gols de Hector Yazalde seus pontos fortes.
Com um jogo mais técnico e de passes rápidos, o Lyon passou a comandar as ações ofensivas desde os primeiros minutos de bola rolando e empilhou chances claras de gol. Sem conseguir competir na bola, o OM precisou, algumas vezes, apelar para a violência. A primeira etapa foi marcada por algumas faltas duras que travaram o andamento do jogo.
Apesar disso, foi Boubacar Sarr quem criou a grande chance da etapa inicial. Após cruzamento da direita, o goleiro Gilles De Rocco se atrapalhou com Yazalde na saída do gol e a bola sobrou para o senegalês, que cabeceou firme e viu o arqueiro adversário fazer uma belíssima defesa com a mão direita.
A finalização do atacante deu um gás no jogo, que ganhou mais velocidade nos minutos finais. Só que o Marseille não estava com o pé calibrado nas finalizações, da mesma forma que o Lyon não era capaz de criar chances, esbarrando em Trésor, vivendo mais uma de suas tantas noites imperiais no sistema defensivo. Por fim, o primeiro tempo terminou sem ninguém marcar.
Argentinos decidem
Na etapa final, o ritmo caiu. Começando a sentir o cansaço e a pressão de decidir em um jogo único, os dois times abusaram dos erros e as chances de gol se esvaíram. Ainda assim, mesmo ficando menos com a bola, o Marseille continuava levando mais perigo ao gol adversário. E foi num lance que até hoje há discussão se foi sorte ou competência que o OM tirou o primeiro zero do placar.
Aos 21 minutos, o argentino Raoul Noguès recebeu pela direita, na altura do bico da grande área. Ele ergueu a cabeça, aparentemente procurando quem viria no segundo poste se apresentando para finalizar a jogada. Quando, de repente, a bola voou nos céus de Paris e encontrou o ângulo de De Rocco, que nada pode fazer para evitar o primeiro gol da partida.
Cruzou? Chutou? Não sabemos, mas foi um belo gol que ficou marcado na memória do torcedor.
Atrás no placar, o Lyon procurou o ataque de maneira desesperada e cedeu os espaços que o Marseille tanto queria para contra-atacar. E depois de perder algumas chances claras, o OM liquidou a fatura aos 39. Yazalde recuperou a bola no círculo central e arrancou em velocidade. Depois de deixar dois marcadores para trás, serviu Boubacar, que deu dois toques na bola, saiu na frente do goleiro e encheu o pé direito para estufar as redes e correr para o abraço.
Com o 2 a 0 consolidado, o Marseille poderia, enfim, gritar “é campeão” da Copa da França pela nona vez em sua história.
O Lyon, apesar de ter ficado sem a taça, reagiu no Campeonato Francês. Chegou a entrar na zona de rebaixamento na penúltima rodada, mas o tropeço do Monaco diante do Lille e a vitória sobre o Troyes salvaram os vice-campeões da Copa da França.